Artigo: Porque o retorno de Tai Lung em 'Kung Fu Panda 4' NÃO FOI uma decepção e sim uma ideia muito corajosa
Apesar de não entregar literalmente o que a maioria de nós queríamos, o filme abordou com carinho um dos melhores personagens da franquia e um tema central para a vida real
Tá, acho que isso seja meio polêmico e talvez só eu ou quase ninguém viu da mesma forma. Mas... lá vamos nós. Depois de assistir o quarto filme, ou de levar algum spoiler na internet, a gente bem sabe o que aconteceu com os vilões que a DreamWorks trouxe de volta para 'Kung Fu Panda 4' e não é preciso muito tempo pra ver que a maioria do público não gostou minimamente. Na real, quase todo mundo ODIOU, DETESTOU o que fizeram com o Lord Shen, o Kai e principalmente com o Tai Lung nesse filme. O que me deixou com um pulga atrás da orelha, porque eu até curti.
Mas calma, que vou explicar: Logicamente, você trazer de volta personagens que se consagraram só pra eles serem derrotados facilmente e mal terem falas num filme é quase um crime. Mas no caso de Shen e Kai eu até relevei pelo fato de não ter havido uma campanha toda de marketing em cima deles, entende? Nesse caso, pra mim não fez muita diferença essa subutilização. Claro que eu queria ver muito mais deles, mais falas, mais cenas. Na boa, por mim eu veria meia hora ou mais desses personagens solando quem viesse. Afinal, também são pilares que levaram a franquia até onde está. Mas a grande decepção foi, de fato, Tai Lung. Será?
Na verdade, não.
O que fizeram com Lung foi, na verdade, um excelente trabalho de desenvolvimento que passa facilmente batido pelo público, que espera ver o personagem falando, interagindo com o filme o tempo todo e muitas vezes, nem assim consegue transpassar história ou lição alguma. Vou explicar melhor: Eles pegaram a imagem do primeiro antagonista da franquia e pra muitos o personagem mais querido e colocaram em TODOS os materiais de divulgação, desde o primeiro trailer. O que geral vai pensar? "Pô, ele vai estar no filme e vai quebrar qualquer um na porrada. Ou vai se tornar de fato o Dragão Guerreiro, como deveria ter sido. Ou o Mestre Shifu vai se sacrificar para salvar ele e, em homenagem a seu mestre, o Tai Lung vira o novo mestre dos Cinco Furiosos.".
E sabe o que acontece? Nada disso. Pelo contrário, recebemos sim uma bela sequência de luta em nome dos velhos tempos e só. Ao invés de um dos finais previsíveis que todos nós esperávamos, o que nos foi entregue é um personagem maduro, consciente das coisas que aconteceram e se mantendo disciplinado.
Ah, mas como assim, Kauan?
Vou explicar.
Quando o personagem volta do Reino das Almas, ele logo questiona o porquê da vilã estar em posse do cajado de Oogway, afirmando que o panda fofo não seria tonto o bastante para entregá-lo de mão beijada. Nessa linha de diálogo, já fica bem claro que o guerreiro possui um respeito por Po e reconhece suas habilidades. Afinal, foi derrotado por ele. E não esqueçam, Tai Lung é disciplinado.
Seguindo isso, quando se reúne com o protagonista enquanto está preso, ele faz algumas piadas enquanto o Dragão Guerreiro está levando uma boa surra da vilã (Isso se ele não estivesse apanhando propositalmente, confesso que essa parte pode ser algo implícito também) e quando conversam, fica um ar de aceitação e respeito mútuo entre ambos, como dois campeões que reconhecem a força um do outro. E quando enfim tudo é resolvido, nosso malvado favorito do kung fu faz um breve discurso reconhecendo a força de Po e afirmando que ele, de fato, foi uma boa escolha para Dragão Guerreiro, liderando um cumprimento coletivo em reconhecimento de sua bravura. Um pouco depois desse momento, antes de entrar no portal e retornar ao reino das almas, ele ainda diz: 'Vejo você do outro lado', reforçando mais uma vez a ideia de que o personagem aceitou tudo o que aconteceu com ele até então e, acima disso, ENTENDEU tudo isso e respeita muito o Po, como dois grandes guerreiros que se reencontrarão um dia para lutar novamente. E não só ele, todos os outros ali presentes estavam livres naquele momento, mas deliberadamente retornaram ao reino. Para Tai, seria fácil naquele momento se rebelar mais uma vez e espalhar destruição por onde quer que fosse, para buscar uma nova vingança por sua derrota. Mas, ao invés disso, ele entendeu que as coisas aconteceram como deveriam acontecer e seguiu com sua disciplina e honra, reconhecendo quem é superior a ele. Lógico, fazendo umas piadinhas aqui e ali, numa rivalidade saudável.
E o mais legal é que tudo isso não é 'mostrado' no filme. Esse amadurecimento fica subentendido nas atitudes do personagem. Admito, foi isso que mais me conquistou nesse filme. Esse paralelo com a vida real, onde nem sempre tudo acontece como nós queremos e planejamos, mas cabe a nós e ao tempo, adquirir maturidade e mentalidade para entender que as coisas são assim mesmo e está tudo bem. Não é o fim do mundo não conseguir aquela promoção no trabalho ou não pegar top um na rankeada. Está tudo bem, seguimos.
Dito isso, eu realmente não sei se a DreamWorks fez isso de maneira proposital e usou as entrelinhas para contar esse lado necessário da vida embrulhado num desenho infantil ou se aconteceu por acaso mesmo e acabou que funcionou. Deixo essa pra vocês. E aí, que acham?
Leia aqui a resenha que fiz sobre 'Kung Fu Panda 4'
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