Resenha | Coringa não é só um filme sobre personagem de quadrinhos. É perturbador, é real

Filme de Todd Phillips vai além da já batida forma de adaptar personagens das HQs e apresenta versão profunda e orgânica do clássico vilão



Nenhum Coringa, nenhum mesmo, terá o peso que a interpretação de Heath Ledger empregou ao personagem, tampouco terá tantos fãs quanto este angariou (esqueça as sofríveis postagens no Facebook com aquelas frases 'cueca frouxa') desde O Cavaleiro das Trevas até hoje, fato. Talvez.
Fãs mais abertos sabem que existem tipos e tipos de personagens. Com Arthur Fleck não é diferente. Nunca foi. O Coringa não é algo que se tenha uma fórmula básica e pronto. É uma constante. Ás vezes, o Coringa é alguém que entrou em contato com produtos químicos e enlouqueceu, em outras, um mero piadista, pode ser um sádico insano que só quer ver o cerco pegar fogo ou um gângster playboy sem graça. Ou apenas um homem.
O novo filme, que recomendo veementemente, tem essa abordagem. Apenas um homem com transtornos psicológicos numa sociedade, e o mal que esta pode fazer. A Gotham retratada ali pode ser a sua, a minha rua. Os problemas que o protagonista passou podem ocorrer com seu vizinho, ou alguém da vizinhança e você nem sabe.
Muitos têm criticado o filme nesse ponto, pois não querem saber de ter as verdades jogadas na cara. Isso incomoda, causa raiva. Afinal, quem quer assistir á uma realidade no cinema, quando se maravilha com jóias do infinito meses antes? É chato ver a realidade, mesmo sendo DC ou Marvel, é chato. E como do ser humano, se é chato, leva hate.

A direção de Phillips é sucinta, básica, brinca com seus recursos e nos mergulha na história de forma complexa e atraente. É prazeroso. A atuação de Joaquin Phoenix, nem se fala. Se tem um nome já certo na briga pelo douradão de melhor ator, certeza que é ele. Nos sentimos dentro de sua cabeça e entendemos cada ponto que ele expõe antes de sucumbir á loucura. E ficamos lá, olhando, chega a ser 'agonizante' .
Se você é um dos que não curtiram a abordagem dessa versão do personagem, sugiro que converse com alguém que sofra de tais transtornos psicológicos, como a ansiedade, depressão, que sofra de solidão, proveniente das duas primeiras. Em uma conversa aberta certamente você vai entender cada frame desse filme. Vai entender como a frase
A pior parte de ter uma doença mental, é que as pessoas querem que você se comporte como se não tivesse.
Pode significar muito para alguém. Ou como
Só espero que minha morte valha mais centavos que minha vida.
Descreve um sentimento que não sai da boca, dentre tantas outras, que fazem deste um dos maiores filmes sobre quadrinhos já feito. Avassalador ao mostrar a realidade nua, fria e crua.
É maduro, insano, não tão dark, perturbador e mais que tudo, orgânico. Um filme sobre uma causa, sim, real. Sem poderes, soros, fantasia ou etc. Apenas um homem já instável numa sociedade. E o mal que ela pode fazer.

NOTA - 9.9/10 POR GOSTO PESSOAL
              10/10 PELO CONJUNTO DA OBRA

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