Resenha - 'Coringa: Delírio a dois' falha como blockbuster, mas funciona ao ser um estudo psicológico destinado a ser cult (EXPLICADO)

Novo filme do Palhaço do Crime de Gotham consegue furar a bolha dos filmes de herói. O que é bom e ruim

(Créditos: DC/WarnerBros.)


O primeiro Coringa, de 2019, foi um sucesso absoluto. Muito se deve ao roteiro e performances de sua produção. Porém, outro ponto que corroborou pra que o filme conquistasse o público, sem dúvida, foi o simples fato dele transmitir a ideia da revolta contra o sistema, de alguém que, escorraçado pela sociedade, acaba sucumbindo á loucura e se torna um mártir. A história foi extremamente elogiada justamente por ser muito ligada na realidade. Retratando situações que poderiam acontecer com qualquer um e em qualquer parte do mundo. Até esse ponto, tudo bem. O sucesso merecido bateu a porta.
Mas...

Na vida real, você pode, praticamente, fazer o que te der na telha. Você é livre. Porém, pra cada coisa que você fizer haverá uma consequência. E no caso de Arthur Fleck, várias. 
Nós terminamos aquele primeiro filme com o Coringa ascendendo numa Gotham City em caos. Literalmente, confusão e gritaria. E foi por isso que o filme conquistou tantos fãs, já que transmitiu o sentimento de revolta crescente na maioria das pessoas, seja por questões políticas ou éticas. Ao direcionar essa revolta para uma figura que quebrou o sistema, o filme ganhou muitos pontos que, somados com sua qualidade resultaram no que vimos.
Mas, voltando ao segundo filme, ele literalmente é um filme sobre consequências. E eu explico: Arthur, o Coringa, fez o que fez. Assim como qualquer um pode ir pra TV e causar uma revolta. No entanto, assim como na ficção, na vida real haverão consequências por seus atos. No caso do Coringa (ou melhor, Arthur), as consequências foram os abusos emocionais e físicos sofridos num sistema penitenciário podre.
Entende o paralelo? Tudo bem que o filme enrola demais e abuuuuuuuusa das músicas, mas com um pouco de esforço, dá pra entender a ideia da coisa: Mostrar que haverão consequências pra cada ato que tivermos. Mostrar que uma pessoa quebrada pode acabar tendo um surto e cometer algo que não faria normalmente. Deixar bem claro o modo como pessoas com transtornos mentais vivem á margem da sociedade e muitas vezes só se ferram na vida. Até porque, do início ao fim dessa duologia, o personagem principal só se lascou. Seu único momento de brilho foi justamente quando abraçou um lado que, posteriormente, se arrependeu.

- Leia também a resenha do primeiro filme aqui!

Esse é um ponto que muita, muita gente não entendeu. O personagem de Joaquin Phoenix nunca QUIS ser a figura do Coringa. Ele apenas cedeu a uma loucura desenvolvida por uma vida de abusos sofridos. Porém, devido a pressão das pessoas ao seu redor, que o empurravam a cada ato de euforia, essa coisa foi crescendo e crescendo até que sua mente entrou em parafuso. Mais uma vez, dá pra fazer um paralelo com a vida real: Onde, especialmente na internet, milhões e milhões de pessoas acabam cedendo a pressões externas, ao hype, e fazem coisas das quais se arrependem depois. Guardadas as proporções, lógico, é o mesmo caso.

Outro ponto muito bacana do filme, apesar de ser usado ao extremo, é a fato de ser um musical. Afinal, quem canta seus males espanta, não é mesmo? E no caso de Arthur Fleck, cantar ajudava a explanar ainda mais seus devaneios. Especialmente depois de conhecer sua 'Arlequina' entre aspas, pois a personagem de Lady Gaga nada mais é do que uma representação do público em geral. Eufórico com o Coringa, ávido pelo caos. Mas nem um pouco afim de sequer estar perto de um pobre coitado problemático como Arthur. 
Isso te fez pensar em alguma coisa? É bem por aí. Percebe como o filme vai o tempo todo deixando claro que sabe o que o público vai sentir? E essa personagem está ali pra isso.
No final, quando ela abandona o coitado, é quase como se o diretor soubesse a reação do público.
E no fim, né... Quando o personagem principal encontra seu fim justamente pelas mãos de um dos 'fanáticos' que o seguiam, você percebe que, assim como muitas pessoas infelizmente partem sem ter a chance de realizar algo na vida, Arthur Fleck morre sozinho, num lugar que o destruia mais e mais a cada dia. Numa vida que não via brilho a não ser quando justamente fazia (ou era) algo que o próprio não desejava de fato.

Pra encerrar, muitas pessoas usam o argumento de que: 'Ah, mas se eu quisesse um filme filosófico ou cult, não iria assistir um filme de um vilão de gibi', porém, isso só mostra o quanto os filmes de herói escalonaram de patamar e, com certos personagens, podem contar quaisquer tipos de histórias.

Só digo uma coisa: Não vá pela cabeça dos outros. Seja VOCÊ o seu próprio crítico. Se deu vontade, assista. Se não, não fica repetindo o que outras pessoas acharam. Busque ter a sua opinião e que se dane se concordam com você ou não. Já que cinematograficamente, tem doido pra tudo.

NOTA - 7,5/10 

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